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Mostrando postagens de junho, 2008

anotações sobre a coisa política na figura de barak obama

para Arnaldo Xavier , in memoriam 1. Prévias e campanhas eleitorais para a presidência norte-americana, e, mais tarde, o decurso mesmo de alguns mandatos presidenciais, com seus concomitantes entrechos, quer sejam novelescos, quer sejam trágicos, formam uma fabulação cujos capítulos acompanhamos sempre com compreensível interesse. E as razões para esse interesse são de toda ordem, vão desde a questão do perfil que assumirá a política externa do candidato vencedor, passando por seu reconhecimento sancionado ou não, por sua vez, pela entidade do sistema financeiro, hipostasiada em Wall Street, e chega até à especulação frívola sobre a eventualidade do presidente levar seu animal de estimação a bordo do avião presidencial. Já há algum tempo o Presidente dos Estados Unidos se tornou um personagem da indústria do cinema. Há o gênero “filme de presidente”. E em muitos deles o presidente assume foros de herói. 2. Quem veste a casaca, ou afivela a máscara da U.S. Presidency - isto é, quem fala

revistas literárias e seus tarados protetores

O poeta peruano Mirko Lauer escolheu como epígrafe para o seu livro Os poetas en la republica del poder , esta maravilha de José Lezama Lima, que diz assim: “...el encapotado odio de siempre de los poetas tejedores de la gran resistencia en contra de los asquerosos y progéricos, porcinos y tarados protectores de las letras”. Uma provocação, ou um reparo que poderia ser aditado à divisa do autor cubano é o seguinte: muitos poetas também se encontram entre os asquerosos, porcinos e tarados protetores das letras e da poesia. Isto até não seria de estranhar, inclusive porque, em nossos dias, parte importante deles se forma e se formará cum laude dentro dos muros da academia, instituição cuja apetência museológica se presta apenas para ratificar e amparar o consagrado. De outra parte, o papel, a ingerência da crítica num suposto aprimoramento da poesia no Brasil é reconhecido pelos leitores das revistas dedicadas ao gênero? Sabe-se lá. A rigor, a crítica só contribui par

ouvir o coaxar das estrelas

Sempre é bom começar com perguntas. Alice Ruiz: “quantas coisas/ um sonho quer dizer/ e não diz?” ( Yuuka , 2004). A simplicidade com que a poeta refere sonho, quando quer dizer poema, me leva a pensar em toda a fortuna crítica que nos últimos anos se vem acumulando sobre o haikai. Quantas definições tentam dar conta do haikai e não o conseguem. Paulo Leminski, para lembrar outro inventor no gênero, diz que os títulos das três partes em que se divide Os Sertões de Euclides da Cunha, ou seja: A Terra - O Homem - A Luta, formam assim, por justaposição direta, um verdadeiro haikai que faz as vezes da Ilíada brasileira. Por aí já se vê o problema que é aventurar-se na tentativa de definição desse objeto verbal de três versos. Ampulheta (Editora Casa Verde, 2007), de Berenice Lamas, cujas várias etapas construtivas tive a chance de acompanhar com entusiasmo, traz as vantagens e os óbices inerentes a essa condição indecidível que define, em parte, o haikai “fora-do-lugar” como algo transcu

algumas portas abertas e fechadas

O alto modernismo, e mesmo a sua transfiguração mais recente, mais hard – em termos de fundamentação teórica –, isto é, as vanguardas de 1950/60, passam por um processo muito rápido de canonização. Em outras palavras, se historicizam - se a afirmação no fosse um tanto absurda - de uma maneira bastante abrupta e surpreendente, inclusive porque, não podemos nos esquecer, os registros ou o anedotário da resistência, seja ao modernismo, seja à poesia concreta, formam uma pequena história à parte. E tal resistência, pelo alto teor arrivista assumido por suas posições e contraposições, não dava sinais de fácil assimilação ou trégua. Toda a polêmica em torno do problema contribuiu, ao fim e ao cabo, para fazer da recusa conservadora e alarmista, aceitação incondicional. Cedendo, o senso comum ofereceu as condições necessárias para que o alto modernismo viesse a se tornar “uma das manifestações mais oficiais da cultura ocidental”. Se alguém não sabe ainda, podemos mencionar que a ar