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Mostrando postagens de outubro, 2008

esboços-dactiloscritos

a) Antipoesia / poesia pura. Poesia pura - isso faz supor a existência de coisas abjetas que jamais penetrariam na economia estética do poema. A vida é um defeito na pureza negociada do “como se” do viés artístico. Arte e vida não se confundem, mas também não quer dizer que haja uma energia antitética entre ambas. A arte é parte inextrincável da vida. Pano rápido. b) Na música e, de resto, na arte contemporânea ou de vanguarda, a noção de “não-musical” ou de "não-artístico" perde sentido. Por exemplo, na música indeterminada do compositor John Cage, o silêncio que imanta tudo aquilo que, ao primeiro ouvido, surge como “não-musical”, reivindica o status de música, música possível, provável. c) Na intenção de exaurir os sentidos do seu objeto de análise (enquanto o mesmo sucumbe sob as ferramentas afiadas que manipula), o crítico eminente dos manuais e suplementos de literatura, faz da peça literária um mero veículo por meio do qual tenta impor a sua leitura como paradigmátic

e os finalistas e vencedores do ano passado?

Xerxes, segundo Heródoto, chorou ao mirar seu inumerável exército porque considerou que de todos aqueles homens nenhum estaria vivo cem anos depois: assim, conclui Arthur Schopenhauer — de quem empresto a citação —, quem não choraria, diante da visão de um grosso catálogo de feira de livro (ou de coisa similar), ao pensar que de todos esses livros nenhum estará vivo em menos de dez anos. Acho que, além da idéia espirituosa do filósofo alemão, é o caso de recuperar para essa discussão acerca das relações entre cânone e premiações, cânone e mercado, o comentário poundiano a propósito dos diluidores e beletristas. Para o autor dos Cantos, eles não existem, o ambiente (literário) é que lhes confere uma existência - ainda que como fantasmagoria. Parece-me que o mercado livreiro-editorial, por meio inclusive da instituição de certames literários, almeja canonizar e/ou laurear menos esta ou aquela celebridade literária em particular do que um modo de escrita conectado co

precipitação crítica: gama & paz

As relações possíveis entre Luís Gama e Octavio Paz, relações intertextuais, quem sabe possam ser buscadas na comparação entra os poemas “Bodarrada”, do primeiro, e “Petrificada petrificante”, do último: a) ambos poderiam ser apresentados como “bárbaros tecnizados”, se quiséssemos lançar mão do célebre oximoro de Oswald de Andrade; b) levam a cabo uma leitura excêntrica de um específico estado de coisas, ou seja, cada qual a seu modo, faz uma crítica ao eurocentrismo dos impérios coloniais; c) Octavio Paz: mexicano mestiço (?); Luís Gama: filho de mãe escrava negra e de pai fidalgo português branco que o vende ainda menino para pagar dívidas de jogo; d) ambos oriundos de culturas carnavalizadas, irreverentes, iconoclastas e aos mesmo tempo religiosas; e e) neles a ironia resulta em linguagem antimaniqueísta, libertária... As diferenças entre os dois naturalmente são em maior número, no entanto a leitura intertextual pode promover em perspectiva um encontro desejável e desejoso en