As relações possíveis entre Luís Gama e Octavio Paz, relações intertextuais, quem sabe possam ser buscadas na comparação entra os poemas “Bodarrada”, do primeiro, e “Petrificada petrificante”, do último: a) ambos poderiam ser apresentados como “bárbaros tecnizados”, se quiséssemos lançar mão do célebre oximoro de Oswald de Andrade; b) levam a cabo uma leitura excêntrica de um específico estado de coisas, ou seja, cada qual a seu modo, faz uma crítica ao eurocentrismo dos impérios coloniais; c) Octavio Paz: mexicano mestiço (?); Luís Gama: filho de mãe escrava negra e de pai fidalgo português branco que o vende ainda menino para pagar dívidas de jogo; d) ambos oriundos de culturas carnavalizadas, irreverentes, iconoclastas e aos mesmo tempo religiosas; e e) neles a ironia resulta em linguagem antimaniqueísta, libertária...
As diferenças entre os dois naturalmente são em maior número, no entanto a leitura intertextual pode promover em perspectiva um encontro desejável e desejoso entre os poetas: contente fantasmagoria no bojo de uma tradição sincrônica.
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