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Mostrando postagens de maio, 2009

o passado não tem fim

manuel bandeira, meu poeta soberano Trecho de uma entrevista antiga (2006) concedida ao poeta Carlos Besen que capitaneava o website Algaravária . Porque poeta? Ronald Augusto - Lá pelos meus 12 ou 13 anos, minha mãe me escolheu como o ouvinte primeiro de seus poemas. Aquilo para mim foi uma tortura. Ela lia, entusiasmada, os seus versos. Meu jeito quieto e reflexivo ou minha condição de filho mais velho, talvez tenham lhe sugerido a idéia de que eu seria o leitor/ouvinte adequado. Fiquei sem palavras. Era tudo muito chato. Uns três anos depois, escrevi meus primeiros versos. Que lição tiro disso? Nenhuma. Qual sua trajetória literária até o primeiro livro? E do primeiro para o último? RA - Duas perguntas que suscitam respostas intermináveis. Mas, não vou dar essa alegria ao divino internauta. Escrevi muito e li, durante algum tempo, só Manuel Bandeira. Depois dos poemas motivados pelas paixões da adolescência, resolvi sondar a real qualidade do que eu vinha escrevendo. Entrei em co

a prosa pop de bracher em Meu amor

No tocante às preferências (e quase se poderia falar em prerrogativas) da abordagem estética contemporânea relativamente às fronteiras entre os gêneros literários e artísticos, é quase um fait acomplit se dizer por aí que aquelas obras em que se pode referir índices de hibridismo, ou de cruzamentos discursivos, estão condenadas, por assim dizer, a uma recepção positiva e tolerante. Com efeito, poder-se-ia ainda perguntar: dentro de um traçado de rupturas e de apagamento dos limites sígnicos inaugurado e suportado pelo alto modernismo (o versilibrismo projetado no espaço da página, o romance-rapsódia, a assemblage, etc.) e que, desde então, parece ter se constituído no cânone da representação que lhe segue, o que pode a mera reiteração de uma conquista injetar de novo em tal corrente sangüínea? O autor que decide tomar como ponto de apoio para o construto de seu texto a imagem de uma obra em devir, cuja estrutura maleável não admite que se lhe enquadre nem na poesia, nem no conto, nem

minha colher torta no haikai

Hattori Tohô, um discípulo de Bashô escreve em seu Livro Branco que o canto “é uma expressão em palavras do que sente o coração”. De outra parte, o senso comum entende que a poesia é expressão do sentimento e das emoções. Esta pseudo-definição pretende significar que a poesia é pura expressão. Mas, os bichos também se expressam. Por meio do instinto manifestam satisfação, medo e raiva. Expressão é uma coisa, arte é outra. Quando o discípulo de Bashô diz que a poesia (e por extensão a arte) é uma “expressão em palavras”, somos obrigados a reconhecer o aspecto da intencionalidade, pois há um meio através do qual e sob o influxo de uma vontade algo é expresso. No momento em que levo em consideração o meio, isto é, uma mediação de signos, já não há mais emoção pura. O grito, o urro, o muxoxo, o suspiro, enfim, tudo isso tem que soar afinado, pois o que está em perspectiva é um canto, em outras palavras: a arte. Poesia, música, pintura, haikai. O haikai é o elogio da lacuna,