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Mostrando postagens de novembro, 2010

Iberê, o homem-pintor da provinciana vida pós-moderna

Com a proximidade da morte, Iberê Camargo resolveu que parte de sua vida, por meio do registro memorialístico, deveria “acabar em um livro”. Mas, não obstante essa nota lateral que faço ao poeta Stéphane Mallarmé referindo, de passagem, uma imagem modelar de sua obra, cumpre advertir que o pintor gaúcho (e mais adiante o leitor talvez concorde que o adjetivo gentílico não é excessivo) é um “escritor” pré-mallarmaico. Tudo deveria acabar (bem!) em um livro. Mas, Iberê Camargo ainda não o sabia. Com efeito, afirmo isso porque para Iberê, escrever “pode ser, ou é, a necessidade de tocar a realidade que é a única segurança de nosso estar no mundo — o existir”. Isso representa tudo menos o feeling poético-escritural do autor do poema “Salut”, cujos questionamentos sobre os limites da expressão verbal o fizeram suspeitar do objeto resultante da nomeação. Mallarmé não investe sua força criativa na realidade (no ser), já que a considera um defeito na pureza do não-ser, que só se presentifica

o segundo livro de deisi beier

As palavras contam menos que os acordes Antes de tratar da linguagem contida em Córrego de amarras , que é o que de fato interessa, abro aqui um intervalo para discutir um aspecto, no meu entender, secundário, porém não irrelevante, do percurso poético de Deisi Beier que se apresenta ao público a partir de 2007 com Tramas de orvalho , também um livro de poemas. O sucinto comentário diz respeito ao modo como a poeta aborda a imagem cambiante do feminino em sua poesia. Na direção oposta da relativa pureza do espaço interior, espiritual, onde a autonomia discursiva deveria reinar, o poderio da estruturação social exerce sua força. Até certo ponto, a literatura atual procura atender às demandas da dinâmica social em curso, votada a reparar injustiças e exclusões, já nem tanto de um ponto de vista politicamente correto, mas a partir de sua versão diluída, a saber, ratificando uma espécie de etiqueta da boa convivência étnica, multicultural, e, ainda, entre os gêner