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Mostrando postagens de março, 2012

Junco persegue metáforas e achados sem lograr poemas

Por transparência a capa do conjunto de poemas Junco (“junco” também é metonímia de embarcação, no mesmo sentido em que o são “lenho” e “madeiro”), funde e justapõe as imagens do cachorro e do tronco mortos; aquele em decomposição à margem da rodovia e este, fungível, à beira da praia. A tentativa, ou a determinação da decomposição sígnica por meio da autorreflexividade redundante, maníaca e insistente, quer do serialismo verbal visado no desenho sintático dos poemas, quer do colecionismo obsedante na sequência de fotografias que embalsamam e estetizam as carcaças animal e vegetal — graças ao registro cotidiano de suas ocorrências —, pode nos servir de ponto de apoio para a compreensão liminar do recente livro de Nuno Ramos. Junco , à primeira vista, resta cindido entre o não-verbal e o verbal. “Cindido”, como assim? Se a media escolhida é o objeto livro, então não há (ou não deveria haver) hesitação com relação ao verbal. Essa situação, que não precisa ser necessariament

depois de manuel bandeira, sem dúvida, o melhor

Depois de Manuel Bandeira, sem dúvida, o melhor Ronald Augusto* Carlos Drummond de Andrade é um grande poeta, inclusive porque, quando foi preciso, soube reconhecer que Manuel Bandeira lhe era superior (leiam “Ode no cinquentenário do poeta brasileiro”, em Sentimento do mundo , 1940). Alguns objetarão dizendo que o itabirano afirma isso no espaço ambíguo de um poema, lugar onde se anulam a verdade e a mentira, e que, portanto, não se pode levá-lo a sério nesse gesto de desprendimento em que concede o primeiro posto ao poeta recifense. Mas como, do meu ponto de vista, a insuficiência do mundo exige a colaboração da arte para torná-lo plausível e tolerável, sou obrigado a discordar e insistir que Drummond não dissimulava, pois, neste momento moderno/pós-moderno, onde tudo se volta equívoco, a começar pala linguagem referencial (que serve de legenda ao mundo), me parece que o poema, paradoxalmente, acaba por se constituir em um discurso forte o bastante para justif

poema caligráfico-visual

c aligrama de Oct avio Paz Nascimento da escrita; nascimento do poema. Pesquisa semântica a partir da rasura, a imprecisão da escrita de punho. Corolário: deriva semântica. Leitor de lápis em punho que rubrica à margem do texto. A transposição do fônico para o háptico. Imagem que se materializa pela palavra; nem isso: pela rasura. Pontos átonos, fortes e fracos. Un coup de dedos. O texto artístico não deixa transparecer em sua economia genésica toda a gama de vacilações, de lituras, ou até mesmo, de escarificações envolvidas no desentranhamento do neográfico no interior das convenções do discurso literário. Dado por embalsamado — como escreve João Cabral de Melo Neto num poema —, isto é, quando acaba num livro, aquilo que era febril e fabril resta apagado de uma vez por todas, vira música calada. O poema visual nos lança sobre a superfície da materialidade textual onde deparamos esse esforço heurístico e quase que físico do escritor no corpo a corpo com a linguagem,