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fortunate senex




vá de valha, na abordagem de ricardo pedrosa alves

[Ricardo Pedrosa Alves (1970), autor de Desencantos mínimos (Iluminuras) e Barato (Medusa). Publicações em revistas e jornais de poesia, participações em eventos, Bienal, leituras etc. Vive em Guarapuava (PR), é professor de Ciência Política e faz doutorado em Letras na UFPR.]


benjamin e o anjo de costas de klee que não quer cores mas claro&escuro cair de costas do ronald catástrofe mas queda e não movimento ou, não continuidade mas gesto o um só da queda, mas não deserção pois cai de costas: o percurso cronológico contrariado impõe outra questão (que é na origem que termina a queda como se, também nascido do chão, e indo para o futuro, também se revertesse a caída): o atingido de frente ou, no mínimo, o que quer continuar de frente para o mundo dos vivos (e de costas para o dos mortos), certa consciência da queda (a conferir, a determinar) de quem morre&continua no mundo, ainda que.
o nome? (em grego, o que particulariza, o que revela a característica).
sem ginga o quadril de pedra: outra música? poema, a moenda, musseque a terra vermelha, loanda, a lama dos casebres em que se amam, não, divergem, contrários, suados de favela (mexidos em pilão), também angola as bessanganas, estamos na deturpação social e histórica da áfrica, mas não, não isso, elementos como: tira a música óbvia e põe outra (como quem não pode cortar ao certo o pão, que não há, e faz isso com migalhas, farelos de chão), para terminar com o quase xingo-moleque, moleque, chamam assim, apesar.
a página me revolta, uso-a no mínimo, com meu(s) raro(s), não o seu, ainda que não se possa, dizer se o olho (palavra) vai dentro ou fora ou & (da opressão).
depois do nome o intervalo, no vá de va-lha, quase vazado, reticente porém, porejado&não em branco (que de branco já bastam os brancos, vários à mallarmé, hein?).
outro me fala (negro, pemba, avoengo) e o leio (quadro-nêgo) como quem em desfebrização escreve, não escravo, meu nome de tiros (vãos vários) picotado.
o dizer doce, o dizer dos doces, o dizer como os doces, os dizeres da doceira, os doces deserdados num além da mais-valia? (mas não, mas sim): comida dos outro, religião dos outro, opressão dos outro: sobra o emprego (oliveira) de negro (silveira) e ao mesmo tempo ditos os versos vindos da oposição, em postes opostos (a aposta-resposta do travo), ainda que o não seja ao fim o fim.
relendo o ronald ao longo do dia lento, de rastelo e espelho no colo.
nome de intervalo, o que o google olorum escolhe: o nenhum?, partes que não colam, polpa "sem prole" (umbra que a devore em vazio de onoma). mocama palavra no (embornal não há) mnemoseiro.
lamba o livro branco: lembra?, o dialeto eliot do waste lama?
palavras que dizem uma na outra, calam os nomes (saussure será o projeto do deserto?).
o intervalo, enfim, é um lugar malíssimo, de sangue coagulado por cola, de vala cubata por cova, daquilo que não falando (quase) em esmola, ainda&assim, assola.
o seu fetiche é a minha pele (onde o dentro penumbra): você me desenha, nomeia, explora: crioulo, otelo, king cole.
o riso gentili (que não se vende pela tez dos dentes) faculta o açoite - a cabra nos guizos - do mascote de circo: ele, o famigerado, esfarelado entre jogos frívolos de consortes (a conivência de sócios na compra&venda de sortes alheias) e isso mesmo nos supostos ótimos da raça: de um a outro, disse bolle, tentou-se o prumo do diálogo, mas só o do jagunço escolado, não o do entregue à própria cor. a prosa de ferpas entre veredas, não crispada mas como que articulada por molas (deserto é o de quem está fora, em sobrevoo, que no dentro só há paredes e é oco): vianda, vianda e um macaco pra janta de gentes gentilis.
não precisa de in-fans, sig-nans, nem é alguém: tem um branco na sombra e ganha como cabra de ganho, nem em sonho é aquele, ou nem é mais aquele (espécie de ele-nenhum, o que a câmera não capta). mesmo no poema não escapa.
calão (calar para que o nome venha de um não, à mão pesada)(sem artigo mesmo) de caserna (sem anistia ao carcereiro)(aquele com cheiro de bolge do florentino)(aquele do velho fascio no calabouço, pedindo aos campos um resgate institucional via cartinha ao embaixador) do barroco do mattos guerra (capanga de classe&raça, jabor dos seis centos). nomear os nomeadores (bardos sem borda, no à vontade do arbítrio), no contrapé, via tiros no esfíncter e prosa perturbada, saliva de sibila.
palavra, não bata na trave, fira o mero com cara de melro (de keats a eliot, carcereiros centauros da glote, um trote, ou nenhum): entretanto a medida é a mão, quem cava ou é cavado o sabe.
sacra a cura do broxa branco (saco de cancro, se tanto): ainda a sua pele, dentro, onde a sorte é certa, ventre, e a piada é pronta, preta.



 puya


(puya.11)

como escavar sem
o mole da pedra
sabão o crispado
da pedra do cabral?
do saponáceo 'pro
paganda de branco'
ao crack 'usança
de negro' não
há dança só
cortes mas
inda assim
como isso
na langue
do assassino?


(puya.10)

opoemacomocrítica


(puya.9)

nomes de negro
por regra
são sistematicamente
nomes no negro
(rosa os deu e,
sim, meu pai e eu)


(puya.8)

torce tanto
que o verso (ver-o)
não volta
a ler-o
não da versura
como pound
à usura


(puya.7)

conta o sol (os sóis)
nada que o
nada não estrague
(solo a mesma
frase) nem há
mallarmé que
o afague


(puya.6)

cuida a cana
do dono des
dobrando a
sina des
pojada da
cena de
ser nomeado
rato de
catarro de
garapa


(puya.5)

rediga pretinto
o paradigma branco
dos brancos: não
há barco tumbeiro
bêbado


(puya.4)

também queria o narrado do nada
ao som da mijada birra
do rimbaud (sim ao suor
do que se escora sem uma
- aquela uma - perna)

ps. não há o papagaio
da felicidade


(puya.3)

não fala (não
tem colunas a
senzala) ou
tra língua
a mesma
e erma (mais)
de ouro au
gusto ou
tra lida ou
tros campos
não seus
(mais o
asco do
de osasco)


(puya.2)

ou uchoa leite à
beira (plantando ou
tdoor em
ror de
escamas)


(puya.1)

é liso e lúcido
o jabón do enjam
bement como
se diz
no poema como
não se diz
do siscar (o
siso do
estive-sendo
palmer) assim
o assassin-au
gusto


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