Antes da estreia da série pessoas
de boa vontade diziam "calma, vamos esperar a série começar... vocês estão
criticando apenas o título... não conhecem o conteúdo..." etc etc. Pode
ser. Agora, corta para uma cena da chamada de "Sexo e as Negas":
vemos uma das personagens, ela trabalha em um restaurante e conduz alguns
homens brancos, bem trajados e arrogantes, até a mesa, um deles pede uma carne
bem passada, bem escura ou preta, que é como ele gosta e olha de pronto para a
"nega", ela percebe a "indireta" e retruca, como se engendrasse
uma resposta genial ou malandra, assim: "então eu vou pedir ao fulano (um
garçom negro, alto e avantajado) que atenda o senhor, pois ele vai lhe dar certamente
o que o senhor deseja..." (faz um olhar cheio de significados). A cena é mais
ou menos assim. Pois esse é o nível do texto do Falabella. Os negros sempre
sujeitos a trocadilhos de mau gosto, sua genitália usada tanto em vista do
gozo, quanto da punição sádica, a "nega" sobe nas tamancas ou mostra
sua altivez colocando outro negro no centro do circo da estereotipia. E você
acha que o título é só impressão? Inocente.
Irene preta, Irene boa. Irene sempre de bom humor. Quem quer ver Irene rir o riso eterno de sua caveira? Parece que só mesmo no espaço sacrossanto da morte, onde deparamos a vida eterna, está permitido ao negro não pedir licença para fazer o que quer que seja. Não se pode afirmar, mas talvez Manuel Bandeira tenha tentado um desfecho ambíguo para o seu poema: essa anedota malandramente lírica oscila entre “humor negro” e humor de branco, o que, afinal de contas, representa a mesma coisa. No além-túmulo – e só mesmo aí –, não nos será cobrado mais nada. Promessa de tolerância ad eternum , e sem margens, feita por um santo branco, esse constante leão de chácara do mais alto que lança a derradeira ou a inaugural luz de entendimento sobre a testa da provecta mucama. Menos alforriada que purificada pela morte, Irene está livre de sua “vida de negro”, mas, desgraçadamente, só ela dá mostras de não ter assimilado isso ainda; quando a esmola é demais o cristão fica ressabiado. Na passagem dest
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